Sobre Ofensas e Elogios
Quando alguém fala mal de nós, sentimos a necessidade de nos defender, porque nos identificamos com a nossa personalidade e queremos proteger a nossa imagem. Enquanto não nos conhecemos e estamos buscando uma identidade, a opinião externa tem grande importância. Agimos como crianças, ficando bravos ou felizes dependendo do que as pessoas falam para nós.
Desejamos ser elogiados e aceitos, porque isso nos dá uma sensação de segurança. Porém, o problema é que muitas vezes ficamos viciados nesses elogios, e acabamos desenvolvendo orgulho e vaidade. Quando somos elogiados, achamos que estamos sendo valorizados, mas na verdade esses elogios podem ser apenas bajulações ou interesses disfarçados.
Se conseguirmos não nos identificar com os elogios ou as críticas, conseguiremos manter a nossa mente serena, sem nos preocuparmos com o que os outros pensam de nós. Dessa forma, não sofreremos tanto quando recebermos críticas ou ofensas. O problema é que somos apegados à nossa imagem, e isso nos faz sofrer quando nos sentimos rejeitados. A necessidade de elogios, de reconhecimento, leva a dor da ofensa. A não identificação, não é indiferença, não é desprezo, não é uma dissociação.
Por isso, precisamos purificar a nossa mente, e não nos deixar levar pelas nossas ilusões e sensações. Devemos observar a realidade dos fatos e sermos humildes e modestos. Quando conseguirmos fazer isso, seremos capazes de lidar com as situações de uma forma mais equilibrada, sem sofrer tanto com os altos e baixos da vida.
Nada que alguém nos diga pode mudar quem somos. Se alguém nos chama de burros, isso não significa que ficaremos burros. Não podemos perder nossa capacidade de pensar, nosso conhecimento ou sabedoria, só porque alguém nos chamou assim. Às vezes, podemos até acreditar que o ofensor está correto e fixar essa ideia em nossa mente, o que pode levar a situações que confirmam a ofensa. Mas isso é um caso de baixa autoestima, que já estava dentro de nós.
A nossa personalidade e a imagem que temos de nós mesmos são criadas na mente e podem ser abaladas facilmente por outras ilusões, como a ideia de que as palavras de alguém têm poder sobre nós. O poder que uma palavra ofensiva tem é apenas o poder que nós damos a ela. A importância que damos a uma ofensa reflete diretamente a nossa autoimportância. Se não nos identificarmos com as palavras ofensivas, elas não terão poder sobre nós. Podemos responder com compaixão em vez de raiva e não deixar que o medo e a preocupação com nós mesmos nos enfraqueçam diante das ameaças e opiniões dos outros.
As pessoas projetam seus próprios problemas em nós e, se nos identificarmos com isso, podemos reagir negativamente. Essa coisa já existia dentro de nós e não foi criada pela outra pessoa.
As pessoas não estão tentando nos atacar, estão apenas se defendendo. No entanto, em vez de termos compaixão e entendermos, nos identificamos e reagimos defensivamente.
Ficamos ofendidos mesmo quando alguém nos fala algo normal sem intenção de nos ofender. E outras vezes, quando alguém nos dá um conselho valioso, podemos ficar ofendidos. Isso acontece porque ainda temos conceitos e valores que geram sensações de ofensa em nós.
Agimos sem pensar quando sentimos que nossa personalidade está sendo ameaçada. Conforme amadurecemos, aprendemos a controlar nossas reações impulsivas de raiva, inveja, orgulho, vingança, defesa. Aos poucos nos tornamos menos propensos a reagir a ofensas diretas, grosserias, brincadeiras de mau gosto ou críticas.
Se nosso objetivo for nos conhecermos, mesmo sendo uma ofensa aparentemente descabida, devemos levá-la para reflexão. Precisamos reconhecer a verdade sobre nós mesmos, sem depender da opinião dos outros.
Não devemos fazer as coisas esperando elogios ou reconhecimento, pois isso só aumenta a nossa dor e sofrimento. Precisamos fazer o que é certo, independentemente das consequências ou expectativas.
Nisso de ofensas, muitas vezes somos como duas crianças discutindo, em que uma chama a outra de “cara de mamão”. Para um adulto, essa ofensa não tem importância, mas para a criança ofendida é algo terrível. No entanto, ser chamado de “cara de mamão” ou de qualquer outra coisa dá no mesmo, a infantilidade é a mesma. Enquanto as palavras tem importância para nós para criticarmos os demais, seremos afetados por nossos próprios valores.
Por Fabio Balota
(2007)