Sobre a Santa Pobreza
Nosso maior objetivo deve ser buscar o autoconhecimento, para que ao final dessa jornada da existência tenhamos um entendimento mais profundo de quem somos. Se não sabemos quem nós somos, então não somos nada, estamos perdidos, confusos.
Cada nível de manifestação é um velamento. Assim, para encontrar o divino é preciso remover esses véus. Para nós, pode ser difícil perder ou abandonar alguma coisa. Mas o que somos em essência nunca se perde.
Por vezes, algumas situações podem parecer muito difíceis, sofridas, doídas, dramáticas, mas num plano superior, nada perdemos, a não ser as ilusões, as identificações. Na verdade, ganhamos, crescemos, nos libertamos. E depois, quando olhamos para essas situações passadas, vemos que eram apenas ilusões.
A falta de autoconhecimento nos leva a ilusões, acreditamos ser através do que temos. Criamos ilusões para preencher essa falta de autoconhecimento, esse vazio interno.
Os apegos ocultam e revelam uma separação, que gera um desejo. Essas coisas que parecemos precisar são ilusões. Quanto mais vamos em direção dessas ilusões, mais nos distanciamos de nossa essência.
Ficamos sempre presos ao passado, a culpas, rancores, traumas. A pobreza é abandonar tudo, renunciar ao que já passou e estar aberto ao novo. Se não abandonamos o passado, não caminhamos. Pobreza é abandonar o passado, o que já não serve mais, é estar aberto.
O tempo todo precisamos nos desapegar do que parece importante, parece essencial. Somente na nudez total, na pobreza total que se pode encontrar nossa própria riqueza interna. É no desapego do material que começamos a perceber a verdadeira natureza de nossa existência. Quanto mais se aceita ter nada, mais se tem tudo.
As pessoas querem poder exterior por não terem o poder interior, autoconhecimento, contato com a própria essência. Daí surge a exploração, a manipulação, a chantagem, a dominação, a tentativa de controle do outro, da vida.
Os insights transformadores surgem na simplicidade, na humildade, nessa mística pobreza de não saber, não querer controlar nada, nem manipular ninguém, nem querer dominar ou ter poder sobre alguém, nem sobre nós mesmos.
A verdadeira sabedoria está em deixar a vida fluir. Não em buscar controlar a vida, mas em aceitar as incertezas. Isso não é uma ideia fatalista ou determinista. Devemos fazer o melhor que nos for possível a cada momento, praticar o serviço desinteressado, compreendendo que não estamos no controle, não somos donos dos resultados.
É necessário aprender a estar aberto, a fluir com a vida, servindo sem esperar possuir. Isso é a santa pobreza.
Por Fabio Balota