Princípios Espirituais do Bem Viver
Quando buscamos uma religião ou a espiritualidade, nos falam de valores e virtudes, sobre como devemos ser desapegados, bondosos, mas não compreendemos como isso se relaciona com melhorar a vida, com o desenvolvimento espiritual.
O ideal filosófico e religioso precisa se tornar algo prático, concreto, não pode ser apenas uma ideia em nossas mentes. Se não tivermos clareza da importância das virtudes para o desenvolvimento espiritual, nunca vamos dar prioridade para elas. O distanciamento do sagrado, do presente, é o distanciamento de nossa alma. É este distanciamento que causa todo sofrimento.
A virtude é o esforço contínuo de fazer o bem, de buscar o bom, o belo, o justo e verdadeiro. É o esforço contínuo em aprender a arte do bem viver. Ser virtuoso é agir como se amássemos o outro. A virtude do homem é a humanidade, é o equilíbrio, o ponto justo.
As virtudes podem ser ensinadas, desenvolvidas e o exemplo é a melhor maneira de aprender ou ensinar. Tudo nasce da admiração, do encantamento, da beleza, da imaginação. Através da experiência e do sofrimento aprendemos a discernir e escolher. O verdadeiro aprendizado, a compreensão, nos leva a escolha consciente do bom, do belo e do justo.
A felicidade é resultado do desenvolvimento da generosidade, da paciência, e este desenvolvimento exige esforço, renúncia. A felicidade é resultado da conexão consigo mesmo, do aprender a arte do bem viver, da conexão com a própria alma. As virtudes genuínas são aspectos da alma.
O discurso sobre as Quatro Nobres Verdades foi o primeiro ensinamento dado pelo Buda. A primeira verdade é a realidade do sofrimento, a existência do sofrimento; a segunda é origem do sofrimento; a terceira é a realidade da cessação do sofrimento; e a quarta é a realidade do caminho para a cessação do sofrimento.
De uma maneira simplista, as raízes do sofrimento são o apego, o desejo e a ignorância. O caminho para cessação do sofrimento, a quarta verdade, é o Óctuplo Caminho, que pode ser dividido em concentração, virtude e sabedoria.
Na concentração, temos o esforço correto, que é ter foco no objetivo e a concentração correta. No grupo de virtudes, temos a linguagem correta, a ação correta e o modo de vida correto. No grupo de sabedoria temos o entendimento correto e o pensamento correto. O entendimento correto é a compreensão. Se o entendimento nos afasta da verdade, ele está equivocado.
As paramitas são as 10 virtudes que nos levam para a outra margem. São elas:
Dana – Generosidade – é compartilhar, é ser solidário, é agir sem esperarmos resultados, sem esperar frutos, agir além dos interesses pessoais.
Sila – Conduta Reta – é a vivência prática da espiritualidade e dos valores elevados, que necessita de atenção plena, de concentração, de esforço. É o estar consciente e decidindo a todo o momento o melhor a fazer em cada momento na realidade concreta do dia a dia.
Nekhamma – Renúncia – Renunciar é desapegar-se de algo, soltar de algo, abandonar algo. Renunciar é deixar de ver-se como vítima das situações, é deixar de culpar os outros e assumir a responsabilidade por nossas dores e sofrimentos.
Adhitthana – Determinação – Determinação está ligada à vontade, persistência, continuidade de propósito, mas não pode ser uma busca egoísta.
Viriya – Energia – é o esforço correto, o empenho, para abandonar o que é ruim, o que é negativo e maléfico para nós. É o empenho para gerarmos e mantermos estados benéficos o maior tempo possível.
Khanti – Paciência – é uma das virtudes mais importante para o desenvolvimento. Ela envolve a tolerância, a aceitação. Aceitar significa não julgar, não criticar. Paciência é a capacidade de suportar as coisas que o karma traz, porém fazendo tudo que estiver ao nosso alcance para transformar a situação, sem nos revoltar, sem reclamar. Paciência não é inação, não é aceitar uma fatalidade.
Metta – Amor Bondade – é compaixão. Para compreender a compaixão, é preciso compreender a condição humana, o sofrimento humano. Não querer olhar para o sofrimento, para a dor no mundo, é não suportar o próprio sofrimento, a própria dor, isso é a evitação da dor, do sofrimento. A compaixão é misericordiosa e pode nos mover à justiça. Ela é respeito, humanidade, sensibilidade, doçura, é importar-se com o outro. A compaixão realiza a igualdade entre as pessoas.
Pañña – Sabedoria – é algo que deve ser construído a partir do conhecimento e da ação. Quando expressamos ou colocamos em ação o que conhecemos, agimos com sabedoria. Para desenvolver sabedoria, precisamos de estudo, reflexão e aplicação do conhecimento. Sabedoria é saber viver, saber relacionar-se, aprender a bem viver, é a percepção da realidade, para isso precisamos compreender aspectos como projeção, identificação, impermanência, auto importância, impressões, vazio.
Sacca – Verdade – está relacionada à sinceridade e a seriedade, com a ciência, com a busca de conhecimento, sabedoria, com a investigação de nós mesmos e da realidade. A verdade é o novo de cada momento. Todo tipo de autoengano, justificativa, é uma mentira.
Upekkha – Equanimidade – é a mais elevada das paramitas, é não agir com desigualdade ou parcialidade, é aceitação do que é, harmonia com o que é. Ser equânime é ser “igual” com todos a todo o momento, é ir além dos condicionamentos.
Quando somos parciais, quando somos afetados pela crítica ou pelo elogio, somos controlados e manipulados facilmente pelos outros. Se conseguirmos perceber o que é real e o que não é real, não sendo afetados pelas críticas ou elogios, saímos da situação de sermos controlados pelos outros.
Estamos classificando, o tempo todo, as coisas e as pessoas, e isso é a base do discernimento, o problema é transformarmos isso em julgamento, em crítica, tendo nosso comportamento guiado por isso, e não pela consciência e pela vontade.
Se isso não se juntar ao amor e à compaixão, pode se tornar indiferença e frieza. Para saber se estamos evoluindo temos que sempre olhar para os valores elevados.