Por que não Mudamos?
Todo mundo acredita estar evoluindo, mudando e melhorando. Mas a realidade é que, a cada dia que passa, somos os mesmos, com os mesmos comportamentos, mesmos dizeres, mesmas reclamações, mesmos hábitos, justificativas. Nossos pensamentos e crenças são as causas de tudo o que acontece. Devemos mudar o paradigma de sermos vítimas para o de sermos responsáveis por tudo o que fazemos. Assim, vamos nos conhecendo, derrubando barreira, vencendo limitações. Compreender as dificuldades da vida, como as lições diárias, é uma mudança de paradigma.
Não mudamos porque buscamos nos livros, palestras, cursos, apenas a confirmação das nossas crenças. Precisamos nos abrir ao novo, ao que a realidade está tentando nos mostrar, nos ensinar. Nossas crenças nos trouxeram até onde estamos e para seguirmos adiante precisamos abandoná-las. Precisamos questionar a vida, se as coisas devem ser assim e se elas são da forma que as vemos. Enquanto continuarmos a fazer as mesmas coisas, os nossos resultados sempre serão os mesmos.
Se não mudamos é porque gostamos de ser como somos, gostamos de nós mesmos e estamos identificados com isso. Estamos fascinados com o personagem que fomos montando durante a vida. Temos medo de olharmos para a realidade de quem somos. Nossa forma de ser, nossos comportamentos e nossos pensamentos estão cheios de mecanismos de defesa, adquiridos através de experiências, sofrimentos e dores durante a existência. Nós fomos nos construindo e nos moldando para evitarmos a dor, sentirmos prazer.
Não mudamos porque nos falta vontade, força, honestidade, sinceridade e capacidade de renúncia. Uma transformação significa que deixamos de ser quem somos, mas somos muito apegados a nós mesmos para isso. Tememos nos tornar algo que não vamos gostar. Temos a rejeição, a perda da popularidade, dos tatus, da fama e dos prazeres. Tememos deixar de existir.
Nos satisfazemos com a nossa realidade e não mudamos em nada. Cometemos os mesmos erros, rimos das mesmas piadas, reclamamos das mesmas coisas. Projetamos sempre as mesmas ideias, fantasiamos as mesmas fantasias, sofremos com as mesmas expectativas e ficamos ansiosos pelas mesmas bobagens. É triste! Vivemos assim e achamos que somos felizes, achamos que nos conhecemos, que estamos amadurecendo, nos desenvolvendo, avançando. Vimemos um autoengano.
Dizemos que a vida é uma escola, que devemos aprender com as situações e com os sofrimentos. Mas acontecem as situações, passamos pelos sofrimentos e nenhuma transformação ocorre de fato. Tudo fica muito no mundo mente, não existe ação efetiva e nem mudança verdadeira. Mas nos convencemos e nos confortamos com a ideia de que estamos mudando, evoluindo e que a vida está nos ensinando de alguma forma.
Acreditamos que, por frequentarmos uma religião, por acreditarmos em algumas coisas, por conhecermos teorias, doutrinas, conceitos morais e éticos, estamos mudando, evoluindo. Mas essas são apenas gaiolas, prisões, mais bonitas. Não mudamos porque nos autodefinimos, atribuímos rótulos a nós mesmos e nos fascinamos pelos rótulos que nos demos. Isso nos impede de enxergarmos o fato.
Por exemplo, se nos definimos como pessoas calmas, pacientes e tolerantes, dificultamos mais a nossa auto-observação e não conseguimos nos. Sem que percebamos isso, passamos a arranjar justificativas e explicações para as nossas falhas. Então, além das nossas faltas anteriores, agora falta aceitação, honestidade e sinceridade. Somos enganados pela autoimagem, pelo amor-próprio. Quando uma situação se apresenta, ao invés de estarmos presentes e nos observarmos, vamos para a ação querendo expressar nossas fantasias sobre nós mesmos.
Agimos falsamente e sentimos prazer por termos conseguido agir assim. Projetamos nossas ilusões e fantasias para as pessoas, achando que elas estão pensando coisas incríveis sobre nós e que nos admiram. Com isso, temos sensações e nos apegamos a elas, acreditando que são a realidade. Mas são apenas projeções, já que nós é que nos admiramos, nos adoramos, nos envaidecemos. Para piorar, se ainda por cima, alguém nos elogia, o embotamento aumenta e é como se alguém assinasse embaixo das nossas ilusões.
A verdade é que temos muito amor-próprio. Como artistas no palco, queremos aplausos, que são caras, bocas, tapinhas nas costas, elogios e bajulações. Precisamos expandir isso, refletir, explorar, aprofundar.
Não mudamos porque apenas uma parte de nós quer mudar, a outra parte quer continuar a fazer as mesmas coisas, ser do mesmo jeito. Assim, não renunciamos a nós mesmos, a nossos desejos, nossas ilusões, nossos prazeres fugazes. Não nos entregamos e não nos aplicamos em empreender uma mudança, pois teríamos que abrir mão das diversões e dos passatempos para fazermos práticas, ler, estudar, refletir. Mas, precisamos fazer isso diariamente se realmente quisermos alguma mudança. Ao final de cada dia precisamos analisar e refletir sobre o que se passou, sobre gestos, palavras, situações e cenas.
Algumas linhas religiosas ou filosóficas dizem que o homem é essencialmente bom e outras que dizem que o homem é essencialmente mau. O que importa é olharmos para dentro e percebermos o que existem em nós.
Vemos os erros e os defeitos dos que nos cercam e não damos conta da lei da atração, não damos conta das projeções. O que seriam ótimas formas de autoconhecimento, passam a servir apenas para alimentar ainda mais nossa vaidade, nossa auto adoração e amor próprio.
Quando realmente queremos mudar, tudo serve como ponto de reflexão e ação. Quando não queremos mudar, tudo serve como justificativa.
Por Fabio Balota
(2007)