Não Procure o Cristo sem a Cruz
O carnaval passou e estamos na quaresma, nesses 40 dias que antecedem a Páscoa.
Como sabemos, é um período de preparação para Páscoa, um período de renúncias, sacrifícios, provações, um período de purgação para receber a nova luz.
O Cristo é rejeitado, humilhado, traído, açoitado e crucificado, para depois ressuscitar. Mesmo ressuscitado ele carrega as chagas, as feridas do caminho.
A quaresma representa o caminho. E o caminho não é fácil, é cheio de dores, sofrimentos. Mas nós queremos fugir do sofrimento, queremos consolo, conforto.
Não queremos nos desafiar, nos superar. Tememos passar vergonha, tememos a reprovação, tememos errar, nos expor, nos esforçar, nos sacrificar, passar por privações.
Passamos pelos sofrimentos e não entendemos, nos revoltamos, nos achamos injustiçados. A simples comparação com o sofrimento da humanidade já poderia mostrar que nossos sofrimentos não são nada.
Mas a grande questão é nosso atual, só estamos onde estamos por termos passado pelo que passamos, por termos suportado, superado, persistido, amadurecido.
Isso não significa que não carregamos nossas feridas. Significa que amamos o caminho, a verdade, o divino.
Se olharmos a nossa volta, para pessoas que não passaram pelo que passamos, vemos que sofrem com coisas pequenas, que estão identificadas, iludidas, sejam pessoas do caminho ou não, sejam pessoas mais jovens, ainda sem experiência. Então, gostaríamos de estar como elas?
Podemos achar que perdemos tempo, que tomamos decisões ruins, que não percebemos maldade, manipulação, que fomos tolos, que sofremos, que não nos dedicamos o suficiente, que cometemos erros.
Mas isso é um pensamento identificado, uma postura vítima, que oculta e revela nossas carências, fraquezas.
Precisamos sempre refletir e extrair sabedoria das experiências, sejam elas boas ou ruins. Sempre buscado fazer melhor agora.
Se damos ouvidos a esses pensamentos logo podemos acabar buscando consolo nas coisas do mundo.
Quando realmente reconhecemos nosso estado atual, quando realmente reconhecemos os benefícios que tivemos através dos sofrimentos, a força, a capacidade de persistência, a compaixão, a serenidade, a maturidade. Então, a dor pelo sofrimento passado se vai, junto com mágoas e ressentimentos. Assim, a resistência ao sofrimento também se vai e nasce uma abertura para a vida, para o sofrimento e para alegria.
Nas palavras de São João da Cruz: “Não procure o Cristo sem a cruz!”
Por Fabio Balota