Ilusão e Realidade
Quando falamos sobre ilusão e realidade, estamos falando sobre percepção. Cada um de nós percebe a realidade de uma maneira diferente: a criança percebe como criança, o adolescente como adolescente e o adulto como adulto. Cada um tem as suas próprias impressões da realidade. A vida nada mais é do que um contínuo de impressões. Por isso, ao transformarmos as impressões, transformamos a nós mesmos.
Para alcançar essa transformação, precisamos entender que as coisas não têm qualidades inerentes, são vazias. Todas essas qualidades dependem de nós mesmos, das nossas percepções das situações. Desse modo, se passamos por uma situação em que uma pessoa nos irritou, por exemplo, não há nada na situação em si que seja capaz de nos provocar irritação. Somos nós que, com nosso conteúdo interno, nossos sentidos, nossas histórias e nossas identificações, projetamos na situação algo que nos causa irritação. No entanto, acreditamos que as coisas possuem qualidades inerentes, que nossa percepção corresponde à realidade concreta. Não nos abrimos à possibilidade de que talvez a nossa percepção esteja equivocada, seja ilusória.
É importante entender que nossas impressões não correspondem à realidade concreta, absoluta. Elas são superficiais, parciais, são sempre alteradas pela experiência, pela memória, pelo estado, pelo ponto de vista. Conforme nós mudamos nosso estado, conforme mudam as situações e os contextos, mudamos também a forma como percebemos. Quando estamos com raiva, por exemplo, temos uma impressão sobre determinada situação e, quando a raiva passa, a nossa impressão é outra. Ao percebermos que nossas emoções não são permanentes, concretas, podemos relaxar e deixar de nos identificar tanto com o que sentimos e com o que nos acontece. Ao nos identificarmos com nossos pensamentos e emoções, cremos, de forma equivocada, que são parte de nós.
A ilusão o eu permanente é a ilusão da qual nascem todas as demais ilusões, pois é um ponto de vista equivocado.
Estamos cercados por coisas ilusórias e passageiras. Muitas pessoas se identificam com cargos e posições sociais, por exemplo. Esses estados sociais, no entanto, são questões meramente mentais, são somente impressões que chegam à nossa mente, são ilusórias, criações do sistema em que vivemos. Se nós queremos mudar, precisamos romper com essas ilusões, transcender. Morrer para isso e nascer em uma realidade mais transcendente, superior e independente dessas coisas ilusórias, passageiras, percebendo a vida com humildade e simplicidade.
Quando aprendemos a não nos identificar com pensamentos, emoções, posses, histórias, entendendo que tudo é impermanente, conseguimos transformar nossas impressões. Esse caminho requer a prática da observação. Observar o que nós sentimos, o que pensamos, como agimos e como respiramos. Observar também qual é a nossa relação com o mundo, com o outro. É nessa auto-observação que surge a autorrevelação, a percepção sobre nós mesmos e sobre o mundo.