Esforço e Graça

Muitas vezes já falamos que o avanço no caminho acontece através de esforço e graça.

Recebemos a graça do conhecimento, da condição de fazer, da comunidade. Só precisamos nos esforçar para praticar, para estudar, fazer práticas, vivenciar.

O caminho exige decisões, sacrifícios, renúncias. Mas muitas vezes não queremos fazer sacrifício nenhum, não queremos renunciar a nada, não entendemos a que temos que renunciar, nem o motivo.

Porém, qualquer tipo de estilo de vida exige seus sacrifícios. Toda escolha é um sacrifício. Depende apenas do estilo de vida que escolhemos. Escolher ter família e filhos traz seus sacrifícios necessários. Assim como escolher não ter. Escolher uma alimentação vegetariana traz seus sacrifícios necessários. Assim como escolher não ter. Escolher ter um cachorro traz seus sacrifícios necessários. Assim como escolher não ter.

Escolher o caminho traz seus sacrifícios necessários. O que precisamos é ter clareza do que escolhemos. Tudo depende para onde nossos desejos estão direcionados. Quando não temos clareza de nossas escolhas, fica difícil fazer os sacrifícios necessários. Quando a hierarquia de nossas prioridades não é clara para nós, fica difícil fazer os sacrifícios necessários.

Queremos várias coisas ao mesmo tempo, sem critério, sem clareza. Precisamos refletir muito para termos clareza do que queremos. Assim cada coisa pode ter seu lugar, seu espaço. E os sacrifícios ficarão mais fáceis.

Isso tem grande relação com o significado da vida e com a questão o que faríamos se soubéssemos que iríamos morrer daqui uns dias ou meses.

Não vai existir um momento em que encontraremos a tranquilidade absoluta. Precisamos nos acostumar a viver com desconforto e pressão. O desconforto e a pressão nos levam a transformações, superações. Claro que sempre teremos intervalos, momentos de tranquilidade e relaxamento. Mas esses intervalos são apenas uma preparação.

O caminho não é pelo mais fácil e sim pelo mais difícil. O fácil, confortável, relaxado, levam a fraqueza, moleza, distração. O difícil, o desconforto e a pressão, os sacrifícios, levam ao desenvolvimento da vontade, a força, a flexibilidade, a aceitação, a entrega.

A verdadeira razão de permanecer escravizados é que não queremos nos libertar.

Muita gente, ainda que esteja no caminho, não conhece um método, não sabe sobre o ego, a transformação de impressões, a necessidade da mística. Sem isso, patinam muito, demoram muito.

Mas, mesmo que uma pessoa conheça o método, pode não o compreender ao ponto de conseguir avançar.

O conhecimento é uma graça, a compreensão é uma graça, os resultados são graças.

Uma pessoa pode passar a vida toda meditando, fazendo orações, práticas e nada acontecer. Pode fazer ou achar que está fazendo o trabalho sobre si e nada acontecer. Sem a graça, nada vai acontecer.

Sem a graça, uma pessoa pode passar a vida toda presa em fenômenos, fantasias, na superficialidade do esoterismo.

O que podemos fazer para dinamizar a graça é o esforço, trabalho sobre nós mesmos, o serviço desinteressado, que é sacrifício, o amor, a devoção, a fé, a entrega.

Tudo isso vai nos levar a gerar um espaço, uma abertura, um esvaziamento, uma receptividade.

O esforço, a ação, a atividade, tem seus limites. Não podemos simplesmente despertar, nos iluminar, nos tornar mestres. Podemos fazer tudo ao nosso alcance com relação a um defeito, mas a eliminação em si não depende de nós. Não podemos escolher a hora de um insight. Não podemos escolher o momento das passagens das fases do caminho.

Para tudo isso, só podemos fazer nossa parte e nos entregar, fazendo orações, esperando com fé.

Deus, o Ser, podem dar o que quiserem para quem quiserem, quando quiserem, como quiserem. Nossas ideias, padrões, conceitos não significam nada. Podemos nos achar preparados, podemos nos achar despreparados. Podemos nos achar mais avançados do que os outros, podemos nos achar menos avançados. São apenas nossas resistências, ideias, limitações ou vaidades.

Não há limite, padrão ou condição para Deus. Não há limite, padrão ou condição para graça.

Por Fabio Balota