Encontre o Refúgio dentro de Você
Existem muitas práticas espirituais que momentaneamente nos dão a sensação de bem estar, satisfação interna, calma, paz, um verdadeiro refúgio.
Quando percebemos o resultado de tais práticas nos apegamos a elas devido a essa sensação. Mas muitas vezes a sensação não se prolonga por muito tempo, logo volta o tormento interno quando retornamos aos afazeres de nossa vida.
Apenas fazer práticas esotéricas não irá nos ajudar muito enquanto nossa conduta continuar a mesma. Em nosso interior está o registro de todas as nossas más condutas acumuladas de muito tempo, e por esse motivo não conseguimos sustentar um estado de paz por muito tempo.
As práticas espirituais servem para que possamos experimentar uma outra realidade, encontrar o refúgio que existe dentro de nós. Essa realidade que não conhecemos ou não estamos acostumados. A constante prática nos conduzirá a um momento em que estaremos acostumados com o estado de consciência proporcionado pela prática, e aquilo que era diferente e estranho, será natural, e terá criado em nós uma força interna que nos ajudará a sustentar tal estado durante o dia. Quanto mais tempo praticarmos, mais estável e concreta se tornará essa realidade em nós.
Aquilo que nos impede de viver tranquilos, em paz e felizes está dentro de nós mesmos e não em outro lugar. Devemos nos auto-observar e depois fazer uma análise daquilo que observamos em nós mesmos. Nossas imperfeições são resultados de nossa própria conduta equivocada.
A forma como vamos agir diante das circunstâncias da vida é questão de escolha. Desta forma, devemos aprender a fazer boas escolhas, porque são as escolhas que nos levarão ao caminho da iluminação. Determinadas condutas não levarão a esse objetivo e devemos ter isso bem claro para nós.
O verdadeiro refúgio possui bases nas virtudes. Por isso, é importante cultivarmos a pureza do coração. Este é um processo gradual que só é alcançado plenamente quando eliminamos aquilo que nubla nosso coração, como os padrões equivocados de pensar, sentir e agir. São essas mesmas impurezas que nos conduzirão a buscar poderes psíquicos e satisfação sensoriais. São esses “eus” ou “egos” que nos levarão à distorção dos objetivos do yoga. Por isso Swami Sivananda nos aconselha cultivar um coração amoroso e cheio de compaixão antes de tudo.
A pureza de coração é alcançada mediante uma disciplina esotérica e faz parte dessa disciplina o cultivo de algumas virtudes necessárias para a manutenção e avanço deste trabalho.
Virtudes como misericórdia, tolerância, adaptabilidade, coragem, paciência, estado mental equilibrado e amor consciente nos auxiliam no caminho do yoga. Aquele que não tem misericórdia não poderá sustentar o trabalho devido seu egoísmo. A tolerância, a adaptabilidade e a paciência, são necessárias para nosso processo de autotransformação. Sem paciência, sem tolerância, não conseguiremos progredir até alcançarmos a mudança almejada. Se não nos adaptarmos a novas situações de vida, não mudaremos. Além disso, conforme vamos dando passos no yoga é muito comum ficarmos impacientes porque desejamos muitas coisas. É como sentir sede e não ter água para beber, ficamos sedentos dos desejos e isso nos causa impaciência, intolerância, insatisfação e tristeza. Porém, o yoga nos ajuda a olhar para o que está acontecendo dentro de nós e soltar, desapegar, a entregar os desejos de nosso coração ao deus que habita dentro de nós a ponto de transcendermos o desejo e encontrar o refúgio interior.
Sem a virtude da coragem ficamos travados no medo e não avançamos, não rompemos nossas barreiras, nossas limitações porque permanecemos presos ao medo, apegados a nós mesmos e ao nosso passado.
O estado mental desequilibrado nos leva à indisciplina e podemos chegar à loucura por falta de decisão, firmeza e continuidade de propósito. O estado mental desequilibrado poderá nos conduzir ao erro.
O amor consciente nos auxiliará a acabar com nossos vícios e paixões e assim poderemos prosseguir no caminho da yoga.
A prática do serviço desinteressado ajudará a eliminar nosso egoísmo. Com essa prática romperemos com a tendência de nos sentirmos nas coisas, como se fossemos nós mesmos ou como se fossem nossas. Essa prática será o passo para a generosidade, a caridade e a entrega.
Sem o desejo egoísta purificamos nosso coração e com a pureza de pensamento purificamos nossa mente. A busca de consolos nos levam às fantasias e nos tornam inconscientes de nós mesmos. Com uma vida simples, sem exageros, sem extravagâncias, sem objetivar nada além do próprio Ser, descomplicamos nossa vida e saímos da desordem.
Geralmente o que damos aos outros é algo que não queremos mais, é algo que para nós já não serve, este ato não é exatamente um ato generoso porque é a doação de algo de que já nos desprendemos. O verdadeiro ato de generosidade é dar aquilo que para nós possui algum valor.
Quando estamos famintos, a comida é de grande valor porque irá saciar nossa fome. Se estamos nus, uma peça de roupa suprirá nosso frio, então para nós ela tem algum valor. Se somos vaidosos, uma jóia terá um valor além do que ela pode significar e nos apegaremos a esse objeto. Se somos luxuriosos, uma lembrança que nos dá prazer será de grande importância, dificilmente vamos querer ser contrariados em nossas idéias e até evitaremos situações externas que colocarão em risco aquilo que pensamos.
Ser generoso é dar tudo aquilo que é valioso para nós, sem reservas. É dar tudo que nos é mais gratificante.
O Ser humano possui algumas necessidades para sua sobrevivência. Se não damos a nós mesmos aquilo que precisamos, estamos sendo maldosos e egoístas. Devemos aprender a dividir o que temos com os outros. Nossa necessidade é também a necessidade do outro. Isso é igualdade. Se achamos que nada precisamos, e que só o outro precisa, estamos nos colocando acima do outro.
Se queremos ser yoguis não podemos nos deixar iludir pela separatividade. Onde há separatividade não há amor, pois há comparação e disputa. Sempre quando há comparação há também a competição e o desejo de ser e de ter.
Quando fazemos comparações criamos o melhor e o pior, o mais exaltado e o menos exaltado, o superior e o inferior o que prefiro e o que rejeito.
O yoga poderá acabar com essa tendência de isso e aquilo, de eu e ele, do meu e o seu, porque yoga é unidade, a união com Deus é a união com tudo porque tudo vem de Deus e ele está em tudo, ele permeia tudo, ele é o verdadeiro refúgio. Através da compreensão dessa igualdade é que entraremos no caminho do yoga.
Yoga é o caminho do amor universal.
Para sermos yoguis não é necessário mudarmos nossa vida no sentido de abandonarmos emprego, pessoas e compromissos. O que irá mudar é a forma como iremos viver cada dia, a nossa postura interna diante das situações cotidianas.
Em nossa própria casa temos excelentes oportunidades de treinarmos o desenvolvimento das virtudes. As maiores dificuldades estão em nosso lar, porque é o local onde relaxamos e consequentemente mostramos quem realmente somos. É no lar que estão as pessoas que acreditamos nos aceitar, perto dessas pessoas tendemos a agir naturalmente tal como somos. É em nossas próprias casas, com nossos familiares, que nos revelamos.
A repetição dos nomes de Deus, estudo das escrituras sagradas, devoção, prática do silêncio, serviço, pranayama, japa, orações, kirtan e meditação são práticas essenciais do Yoga. Essas práticas protegem a nossa mente e nos ajudam a reconectar com nosso coração. E assim, encontraremos o verdadeiro refúgio que existe dentro de nós.
Por Dilma Balota