Encontrar o Amor no Auge do Sofrimento
Recentemente ouvi um monge dizer que esteve um tempo na Índia e percebeu que lá as pessoas realmente buscam o caminho espiritual. Essas palavras me tocaram e me fizeram refletir se realmente buscamos esse caminho ou se a forma como buscamos a espiritualidade é semelhante ao condicionamento que levam as pessoas a irem à igreja aos domingos e com isso sentir-se um pouco melhor.
Na realidade, quem realmente busca o encontro com a alma está disposto a fazer sacrifícios e suportar qualquer tipo de sofrimento para que esse encontro aconteça. Aqueles que dizem almejar o caminho e não fazem sacrifício algum nesse sentido, não são reais buscadores. Talvez queiram apenas melhorar suas vidas.
O sofrimento assusta a todos e por isso existe uma grande tendência de fugirmos dele. Não queremos fazer sacrifícios do corpo, por isso não estamos dispostos a abrir mão de comidas, confortos e prazeres. Após a pandemia não queremos abrir mão nem de nosso sofá, que dirá fazer viagens longas, como faziam os santos do passado.
Queremos fugir do sofrimento emocional e por isso não estamos dispostos a abrir mão de nossos afetos, da família terrena e temporária e de todos os consolos emocionais que afundam a alma. Também não estamos dispostos aos confrontos intelectuais, não queremos abrir mão daquilo que acreditamos, das ideias que nos trazem conforto, não queremos sair da caverna em prol da luz que está fora dela.
Embora o sofrimento seja temido, podemos considerar que o medo seja uma espécie de guardião que devemos enfrentar para experimentar o sofrimento com consciência e abrir as portas para o amor. Pois, no auge do sofrimento podemos encontrar o amor.
A paixão de Cristo mostra isso, Jesus sofre durante o processo de crucificação, mas ao final ocorre a ressurreição. Na mitologia Grega existe um mito de Afrodite que também revela essa verdade. Diz o mito que Afrodite ficou muito triste com a morte de Adônis, e as lágrimas de seu sofrimento caíram no solo e se transformaram em morangos, ou pequenos corações vermelhos. Em outras palavras, o morango é um fruto que nasce das lágrimas do sofrimento.
A quaresma é o momento que antecede a libertação e o nascimento dos frutos, por isso repito, mais além do sofrimento existe a semente do amor, se pudermos nos conectar com essa pequena semente que vem a luz em meio ao sofrimento, encontraremos o amor.
Por Dilma Balota