As Religiões e as Questões da Culpa e do Pecado
A religião pode ser estudada sobre muitos aspectos, dentre outros, a sua origem, os tipos de tradição, os fenômenos e a religiosidade – que é a união com Deus, ou a percepção de Deus e das coisas, ou seja, a percepção do Sagrado.
De maneira geral, o homem busca a religião pelo sofrimento, pelo desejo de felicidade e segurança. Quando está perdido, inseguro, surgem muitas questões, dúvidas, que o levam em busca de respostas, esclarecimentos que lhe deem entendimento sobre o que fazer e como agir. Surgem também as questões sobre a existência de vida após a morte, sobre Deus, sobre céu e inferno.
Na verdade há um grande vazio interior que a maioria não quer olhar e tenta sufocar: uns vão em festas e buscam divertimentos e fortes emoções, mas não são capazes de acabar com a sensação de que algo está errado. Outros buscam a religião, a espiritualidade para entender este vazio, para encontrar respostas.
Todas as religiões cumprem um papel, sua missão, assim, todas são necessárias. São manifestações da religião cósmica universal infinita. As religiões trazem os valores, os princípios, as ideias morais para a sociedade, para que cada um se desenvolva como pessoa, alcance o melhor do seu potencial, vivendo uma vida mais próxima do sagrado.. A Gnose pode ser considerada a chama de onde saem todas as religiões, escolas e crenças. A Gnose é sabedoria e amor.
As religiões oferecem regras, valores que são importantes para que possamos criar dentro de nós uma base de virtudes. Precisamos ter valores elevados como referências, como um ideal para nos balizar, para ter com o quê comparar o nosso próprio comportamento. Sem referência não temos como nos desenvolver. Sem valores elevados, nobres para utilizarmos como referência para nos analisarmos, tudo nos parecerá correto.
Mas é importante dizer que a responsabilidade da nossa salvação pertence a nós mesmos. A religiosidade ou espiritualidade verdadeira é o ser capaz de viver a vida, de tocar a vida, tocar o belo, tocar o sagrado. É a sensibilidade para perceber o outro, suas necessidades, dores, sofrimento, sem querer ser mais do que ninguém. É harmonia com o movimento da vida.
A salvação refere-se à libertação de um estado ou condição indesejável ou inferior, de um castigo eterno ou condenação. Todo mundo se percebe, de uma maneira ou de outra, em
uma situação indesejável, por isso o sofrimento.
No Cristianismo a salvação pode vir pela graça, pela crença de que Cristo salva. E pode ocorrer salvação também pela igreja, pelos sacramentos: ao passar pelos sacramentos estamos salvos, estamos libertos.
Dentro do budismo, a salvação é a libertação do sofrimento, é o libertar-se da roda de Samsara, a roda de nascimento e mortes.
Em gnose existem os três fatores de revolução da consciência: morrer, nascer e sacrificar-se pela humanidade. Assim, a salvação em gnose está em realizar o trabalho sobre si, morrer em defeitos, purificar o coração e a mente, nascer em virtudes, desabrochar espiritualmente e sacrificar-se pela humanidade, que é servir.
A culpa e medo são reguladores da moralidade comum, e são, num dado sentido, necessários para sociedade. Mas, infelizmente, a culpa é muito utilizada para chantagear, para manipular os outros, para ter poder e domínio sobre os outros. O medo, as ideias de inferno e de danação eterna são utilizados para manipulação, dominação.
A culpa está relacionada com a dualidade do certo e errado, bom e mau, com o que devo fazer e o que não devo fazer. Funciona como uma forma de controle, nas religiões.
O pecado está ligado com a moralidade. O que é moral em um momento pode não ser no outro. O que é moral em uma cultura pode não ser em outra. Porém, existe a moral transcendente, que independe de tempo e cultura. A culpa e o pecado se relacionam.
A palavra pecado está relacionada com errar, cometer um erro, não atingir o alvo, o ideal. O cristianismo fala dos sete pecados capitais: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Aspectos que todos nós carregamos e que obscurecem nossa consciência. No processo de confissão, quem confessa é absolvido, e com isso sente um alívio, se sente liberada do peso. Como nos sentimos culpados, mantemos a culpa e depois nos permitimos ser liberados de seu peso.
O caminho da gnose é a experiência direta, compreensão, consciência, insight. “Está escrito que no trabalho esotérico-gnóstico só é possível o crescimento anímico através do perdão”. Assim, precisamos aprender a perdoar a nós mesmos e aos demais.
Da mesma forma que culpamos os outros, nós culpamos a nós mesmos. O que está dentro é como o que está fora, o externo é reflexo do interno. Aprendendo a aceitar e perdoar os outros, também aprendemos a nos perdoar.