A Arte dos Relacionamentos
O ser humano é um ser social. Estamos nos relacionando o tempo todo, seja conosco, com os outros, com o meio, com a natureza, com o divino.
É no relacionamento com o outro que exteriorizamos aquilo que carregamos dentro de nós e assim nos descobrimos, expressamos nossas virtudes e defeitos. Fugir do relacionamento é fugir de si mesmo. Como nos relacionamos com o outro é um reflexo de como nos relacionamos conosco.
Uma pessoa só pode se relacionar bem com o outro quando está bem consigo. Quando existe o conflito interno, ele é projetado para o externo, não só com os outros, mas com tudo.
Os problemas de comunicação são uma grande fonte de conflito. Aprender a se comunicar de forma assertiva é muito importante. As pessoas são diferentes, não podemos esperar que o outro sinta, pense e perceba o mundo como nós. Aprender a lidar com as diferenças com respeito é amadurecer.
A base dos relacionamentos é a confiança. Demora-se muito para construir uma relação de confiança, mas pode-se destruir a confiança em um instante e quando a confiança é perdida o relacionamento é destruído.
Para evitar isso, compreender o processo de projeção é muito importante para que possamos nos conhecer. Projetamos no outro e no externo o que negamos ou rejeitamos dentro de nós.
Todos nós estamos sofrendo e queremos ser felizes. Culpar o outro não vai nos ajudar a alcançar a felicidade e nem a nos conhecer. Ninguém mais, além de nós mesmos, é responsável pela nossa felicidade ou pela realização de nossos sonhos.
Num relacionamento cheio de exigências do que queremos e esperamos que os outros façam, onde estamos sempre criando condições para amarmos os outros, não existe amor de verdade. Relacionar-se é interessar-se pelo outro, é apreciar o outro.
Quanto mais verdadeiramente íntimos nos tornamos de alguém, mais liberdade, espaço, abertura, mais independência existe no relacionamento. Intimidade é relacionamento próximo, é familiaridade, é conhecer realmente alguém. É algo que construímos, não acontece por acaso.
Quando o relacionamento se constrói a partir da servidão, o que se tem é prisão, sujeição, dependência. Sujeitar-se às vontades do outro ou tentar sujeitá-lo às nossas vontades, tornar-se dependente ou fazer com que o outro dependa de nós, emocional, sexual ou financeiramente não faz parte de um relacionamento saudável. A relação de servidão se constrói a partir do medo e da insegurança.
Os gregos utilizavam quatro palavras para designar diferentes aspectos do amor. Éros é o amor sexual, está associado a um sentimento baseado em atração e desejo sexual. Storge é o amor conjugal, familiar, doméstico. Representa o amor que une o marido e a mulher, pais e filhos, o amor da comunidade, da família. Fileo é o amor da afeição, de pai e mãe, irmãos, amigos, é um amor construído. Ágape é amor “comportamento” e não um sentimento. O amor ágape é o que o amor faz.
A forma de expressar o amor não é igual para todas as pessoas e não existe uma forma ideal de fazer isso, mas precisa existir certa harmonia entre as partes, ou seja, é importante que o outro entenda a nossa expressão de amor.
Existem cinco formas básicas de expressão de amor. Palavras são expressões de sentimentos positivos. Ações dizem respeito a fazer algo para agradar, deixar o outro feliz. Presentes são algo que indique que nos importamos, que nos lembramos do outro. Tempo é dedicar atenção sem distrações, mesmo que seja para estar em silêncio. Toque está relacionado com algo para sentir a presença e que também transmite emoção. Comunicar-se de forma assertiva significa expor alguma coisa de maneira segura e precisa, apresentando um ponto de vista, contudo sem negar os direitos dos outros.
As pessoas têm comportamentos diferentes, e isso deve ser observado. A pessoa de comportamento passivo, não costuma se envolver, tende a concordar com o que o outro determina, sem oposição ou questionamento. O passivo agressivo sempre tem algo a dizer, mas não o faz durante as situações. Não se manifesta na frente do outro, mas depois reclama pelas costas. Pessoas de comportamento agressivo, além de terem opiniões fortes, não temem expressá-las, mesmo que o assunto não tenha sido dirigido a elas.
A pessoa que se comunica de forma assertiva fala por si. Usa linguagem corporal, mantém contato visual com o outro enquanto está falando e questiona sem medo. Expressa o que sente sem medo e com tranquilidade.
Os problemas de comunicação provocam sofrimento, confusões, desentendimentos, frustrações. A Comunicação Não-Violenta compreende nossa capacidade de falarmos e ouvirmos uns aos outros com entrega e compaixão.
Ao nos comunicarmos de maneira violenta, como quando usamos desprezo, deboche, sarcasmo ou ironia, acabamos despertando emoções negativas, sofrimento, frustração. A Comunicação Não-Violenta propõe uma transformação de nossa maneira de agir, uma saída do automatismo comum para um comportamento mais consciente.
Ela se concentra em quatro componentes fundamentais. A observação é observar o que de fato está acontecendo na situação, sem julgar como certo ou errado. Sentimento é a identificação de como estamos nos sentindo, sem entrar em julgamento, crítica, culpa ou punição. Necessidade é a identificação das necessidades envolvidas. Pedido é o momento de identificar o que poderia melhorar para as partes envolvidas.
Quando acreditamos que a nossa irritação foi causada pelas ações das outras pessoas, as culpamos por nossos sentimentos. Mas o outro não é responsável pelo que sentimos. Não julgar é a chave para conseguirmos identificar quais são os sentimentos escondidos nas palavras ou atitudes desagradáveis do outro.
A Comunicação Não-Violenta integra quatro aspectos. A consciência nos traz princípios como compaixão, colaboração, coragem. A linguagem é importante para entendermos como as palavras contribuem para nos conectarmos ou distanciarmos das pessoas. A linguagem consciente é a linguagem do coração, que não quer mudar nada nem ninguém. O aspecto sistêmico consiste em compartilharmos, na busca por visões mais abrangentes, considerando diferentes pontos de vista.
A prática da Comunicação Não-Violenta depende de nós, de nosso interesse, de nossa motivação para agir com compaixão.