A Espera de um Milagre
Diversas virtudes e comportamentos são colocados por nós como inatingíveis, algo muito distante, que só pode ser alcançado em uma outra vida ou quando nos tornamos alguém maior. Temos que ser agora. Veneramos estes seres e entidades, mas não fazemos nada para sermos iguais a eles.
Como diz o Cristo em Lucas 6 46-49: “E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre rocha. Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.”
Esperamos que as situações se tornem ideais para fazermos algo. Mas, na verdade, não existe vida perfeita e sim a nossa capacidade de viver a vida com perfeição, arte e equilíbrio.
Não podemos esperar a vida atingir um determinado nível de perfeição, para que possamos viver plenamente e expressarmos as nossas virtudes, pois isso nunca irá acontecer. E, mesmo se acontecesse, ainda encontraríamos desculpas e justificativas para não viver desta forma.
Por isso, devemos fazer o melhor que nos for possível agora. É muito importante que nós paremos de culpar outras coisas por tudo o que acontece. Temos que tomar as rédeas das situações, pois somente assim elas poderão ser mudadas.
Não podemos mudar os outros, só podemos mudar a nós mesmos. Quando nós mudamos interiormente, o mundo à nossa volta também muda, as pessoas mudam, tudo muda.
A maior parte das condições que colocamos para sermos corretos com os outros, nós mesmos é que devemos resolver. Problemas de baixa estima, mania de grandeza, soberba, respeito, etc.
Precisamos parar de cobrar e criticar os outros. Precisamos parar de causar sofrimento nos outros. Precisamos nos tornar doces com o próximo e sinceros, honestos conosco. Isso não significa mais auto cobrança, significa ver o certo como certo e o errado como errado de forma sincera, sem desculpas, sem explicações.
Diz H. P. Blavatsky, em “A Voz do Silêncio”: “Antes que possas entrar em Jnana-Marga e chamar teu, a tua Alma tem de se tornar como o fruto maduro da mangueira: mole e doce como a sua polpa dourada para as angústias dos outros e duro como o caroço para as tuas próprias dores e angústias, ó triunfador da alegria e da tristeza.”
Enquanto continuarmos a fazer as mesmas coisas, os resultados serão sempre os mesmos. Precisamos mudar, agir, viver a espiritualidade na prática, em fatos concretos no dia a dia, nos pequenos gestos.
Nada mudará enquanto apenas lermos, assistirmos e ouvirmos sobre coisas relacionadas à espiritualidade. Além de fazer isso, precisamos viver os ensinamentos de forma prática e concreta, não apenas nas fantasias da mente.
Muitos grandes mestres ensinaram a renúncia, mas nós nunca queremos renunciar a nada. Queremos uma espiritualidade que nos seja cômoda, que nos fale o que queremos ouvir.
Nada mudará enquanto ficarmos apenas buscando sem nunca começarmos a seguir por um caminho.
Não é possível caminhar por vários caminhos ao mesmo tempo.
Nada mudará enquanto não praticarmos de forma firme e séria para nos transformarmos internamente, para purificarmos nossos corações e mentes.
Nada mudará enquanto permanecermos à espera de um milagre sem fazermos nossa parte.
Por Fabio Balota
(2007)