Auto-observação e Atenção Plena
Hoje, muito se fala sobre o autoconhecimento, mas pouco se discute sobre “o que” vamos conhecer e “como” vamos nos autoconhecer. Ao pesquisarmos na obra do Mestre Samael, veremos que se fala muito sobre auto-observação e pouco sobre análises. A mesma coisa ocorre nos ensinamentos de Buddha. Desse modo, a questão do autoconhecimento não está na análise, mas na observação constante de si mesmo.
Em primeiro lugar, é necessário entender o que observar. Como espectadores de uma peça de teatro, precisamos nos atentar às nossas atitudes, emoções, pensamentos, gestos e palavras, bem como às mudanças em nossas ações e pensamentos a depender de cada ambiente e situação em que estamos inseridos. No início, pela falta de costume, perceberemos pouco as nossas emoções. Conseguiremos lembrar o que sentimos apenas depois, durante um exercício de meditação ou retrospecção. Com o passar do tempo, porém, com a prática, conseguiremos percebê-las de forma mais direta e imediata. Isso porque, quanto mais nos observamos, mais aguda se torna a faculdade da auto-observação.
Em segundo lugar, uma vez compreendido o que observar, podemos entender por que fazer isso. A principal razão é a transformação pessoal. Quando sentimos que existe algo de errado, podemos fazer algum esforço para mudar e, assim, deixar de sofrer. O primeiro passo para isso é observar o que estamos passando para identificar uma coisa concreta. Sem isso, não conseguiremos identificar nada em que possamos trabalhar e, como consequência, não alcançaremos melhorias.
Ao perceber algo em nós que incomoda, buscamos justificar nossos defeitos, inventar desculpas e fugir do que está acontecendo. No entanto, é necessário estarmos concentrados e sermos sinceros conosco mesmos, sem criar barreiras para a autopercepção. A pessoa, ao se observar, não pode considerar o que gostaria ou deveria sentir, nem mentir para si mesma se enganar.
No pensamento budista, há Quatro Nobres Verdades que falam sobre o sofrimento e sobre as práticas e caminhos para cessá-lo. Na Quarta Nobre Verdade, focada nesse caminho prático, é ensinado sobre a atenção plena. O Satipatthana Sutta (Fundamentos da Atenção Plena) mostra o caminho para se auto-observar: tomando o corpo e a respiração como base para perceber as sensações, a mente e os objetos mentais.
Ao prestar atenção à respiração, deixamos de lado a mecanicidade da vida comum para nos tornarmos conscientes de nós mesmos. A concentração correta estabelece três qualidades na mente que são benéficas para a atenção plena correta: plena consciência (capacidade de perceber tudo), plena atenção (capacidade de manter um objeto na memória) e ardência (capacidade de mergulharmos naquilo que nos concentra, isto é, de nos interessarmos verdadeiramente pelo objeto em foco).
Para nos ajudar no processo de auto-observação, podemos recorrer à chave SOL, metodologia que consiste em aprender a concentrar nossa atenção em três pontos ao mesmo tempo: sujeito, objeto e lugar. Essa práxis não é só um exercício de atenção plena, mas também uma ferramenta de vida prática. Ao mudar o centro da mente para o ser, aprendendo a nos ver por inteiro, conseguimos nos espiritualizar e abandonar a mecanicidade com que agimos e reagimos às coisas.
Durante a auto-observação, devemos simplesmente estar lá e observar, pois a ideia é apenas perceber, sem buscar explicar nada. O importante é perceber como as coisas acontecem, como surgem, permanecem e cessam. Muitas vezes, nesse processo, podemos perceber coisas desagradáveis sobre nós mesmos que nos assustam. Mas se pudermos nos observar sem nos desesperar, seremos então capazes de mudar e transformar a nós mesmos.