O Novo de Cada Momento
Em vários encontros falamos de mudanças, de algo novo surgindo. Também falamos muito da necessidade de abertura para o novo.
O novo não é uma informação ou conceito novo, inédito ou inventado. O novo é o que vivenciamos, o que compreendemos e trocamos uns com os outros. O novo está dentro de cada um de nós. Somos sempre novos.
Citando Heráclito, ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. O rio é o mesmo e não é o mesmo, as águas correm, as margens mudam o tempo todo, o leito também, tudo está vivo e em movimento.
Cada pensamento, cada emoção, cada impressão nos muda. A vida em si mesma, a vida que pulsa em nós, nos muda o tempo todo.
A vida é o novo de cada momento. A verdade é novo de cada momento. A gnose é novo de cada momento. A vida é um processo criativo. O Ser é vida.
Existe o bem e existe o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado. Prender-se apenas ao bom ou apenas ao mal é escravidão. O agarramento à boa lembrança é da mesma natureza do aprisionamento à mágoas e ressentimentos. Negar a dualidade é negar a realidade. Ir além da dualidade é perceber os dois lados sem se prender a nenhum deles, sem negar nenhum deles, sem pintar de rosa ou de preto a realidade, sem encher de significados a realidade.
De toda experiência precisamos retirar o aprendizado e seguir adiante. Agradecendo e deixando que passe. Precisamos nos desapegar do passado, do que aprendemos, das pessoas que conhecemos, das ideias que temos das pessoas, ou das pessoas como conhecemos.
O que nos motivava ou nos fascinava no passado é diferente do que nos move hoje. A gnose que servia ou que percebíamos no passado é diferente da gnose percebemos hoje. O que percebíamos no passado não serve mais. Querer reviver ou sentir o que sentíamos no passado é aprisionamento. Não somos mais que fomos no passado. Somos novos, diferentes, por mais que não percebamos ou não queiramos aceitar.
Podem existir conhecimentos ou experiências que pura e simplesmente estavam equivocados, precisamos reconhecer e abandonar e não ficar tentando achar algum significado, alguma justificativa.
Se nos agarramos as ideias do que poderia ou deveria ser, do como deveríamos ter avançado, do como não avançamos, do que acertamos ou erramos, do que compreendemos ou não compreendemos, ficamos presos. Se nos culpamos ou culpamos o outros ficamos presos. Se nos agarramos as ideias do que é o caminho não caminhamos. Se nos prendermos não poderemos captar o novo e avançar. Se ficamos esperando pela graça é por que não a percebemos. Toda espera é negação da vida.
Se nos prendemos em um conhecimento, se transformamos um conhecimento em algo estático criamos um dogma, uma prisão. Todo conhecimento precisa ser vivo, precisa estar sempre sendo renovado pelo estudo, pela reflexão, pelo constante cruzamento com a realidade. Precisamos estar abertos para que os conhecimentos se revelem a nós, sejam renovados e aprofundados a cada instante.
Se nos prendemos numa ideia que temos de alguém, numa representação, como fala o Mestre, então nos relacionamos com uma imagem, uma representação e não com a pessoa viva diante de nós. Precisamos nos abrir e permitir que as pessoas se revelem a cada instante. E as pessoas podem se revelar presas ou livres a cada momento, se nós estivermos lá, abertos a revelação.
Precisamos nos abrir ao novo, seguindo o fluxo da vida, morrendo e nascendo a cada instante, morrendo para passados e nascendo constantemente no eterno presente.
O caminho é a própria vida.
Por Fabio Balota